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Fascinação
“Fascina-me estar aqui, ver o planeta Terra, ser parte de sua história, caminhar por seu solo, fecunda-lo e criar raízes, respirar o ar todas as manhãs; é uma vida privilegiada, aproveitemo-nos dela, que não estamos aqui por acidente nem coincidência, temos um propósito, nós fomos escolhidos.”
Gostaria que estas fossem palavras minhas, mas elas pertencem a Douglas Weelock, astronauta da Nasa. Esse e outros dizeres acompanham um vídeo enviado por ele, via twitter, do interior da Estação Espacial Internacional. São fotos do planeta Terra. Todas de uma beleza comovente. Recebi-as pelas mãos de Lauro Moreira. Obrigada, Lauro, pelo magnifico presente.
Impossível não sermos tocados pelo esplendor daquela visão. Percebi que assistir ao vídeo não bastava. A magnitude do espetáculo cobrava mais. Era preciso estar lá: sentir, viver, emocionar-se, chorar. Aplaudir a grandiosidade do nosso planeta.
Em consentida alienação, transmudei-me para o interior da aeronave. Era dia. A sequência de imagens me deixou em êxtase. Sobrevoámos o Oceano Índico, e a visão de uma ilha misteriosa, em forma de chapéu, solta entre o azul do céu e do mar, era de uma leveza tamanha que criei asas e voei.
Sob o efeito da luz, a Terra é neve, é areia, é véu. É noiva de feições delicadas. É suavidade, maciez, aconchego. O pôr do sol, uma verdadeira explosão de cores, é de tirar o fôlego, mas nem por isso ofusca a beleza da noite. Noite é glamour, é sedução, é mistério. Para a ocasião, a Terra, mulher vaidosa, prepara-se com requintes de grande dama. Trajando longo vestido azul escuro, cravejado de ouro e brilhante, faz-se enigmática e sedutora. Verdadeiro deslumbramento!
Emocionada eu pensava: Deus é perfeição. Nosso planeta é Deus. Agradeci a Ele o privilegio de ser parte do rebanho que povoa Sua magnifica criação. Em seguida, pedi perdão por minhas ranzinzices, pela insatisfação com a vida, pelo descaso com um bem que recebi por doação. Lamentei cada dia, hora, minuto que tive a petulância de desperdiçar com futilidades. Pedi perdão também pelos danos que causei ao meio ambiente e ao meu irmão. O que me atenuou a culpa foi a lembrança das inúmeras árvores que venho plantado ao longo da vida e de alguns pequenos auxílios que presto a quem de mim necessita.
O vídeo chega ao fim. E a magia também.
Olho em volta. Desentendida, questiono: Este é o planeta que visto do alto me levou ao estado de graça? Sentido na sola dos pés a crosta áspera da realidade, vejo a Terra agredida e o homem assustado. Vejo rios poluídos, cidades esmolambadas, escolas fechadas. Vejo corrupção, mentira e violência. O povo antes amável, está agressivo, sem fé nem esperança no poder público do qual depende. Como é possível um planeta perfeito gerar e abrigar seres tão incoerentes, acéfalos, aleijados de mente e de espírito? A perfeição existe. Eu sou testemunha. Mas contra a harmonia trabalha a aberração. E a aberração somos nós, os humanos, seres dotados de pensamento, ditos superiores. Superiores! Nossa atuação aponta para o individualismo, a mesquinhez, a soberba e a ganância.
Não condeno todas as nações, assim como absolvo parte de meus compatriotas. Buscando soluções, veio-me a ideia que, sob a emoção, me pareceu brilhante: colocar em naves espaciais aqueles que atentam contra o bom comportamento. Tenho certeza de que voltarão reabilitados.
Se é verdade que fui escolhida, que há um propósito no meu existir, imploro a quem de direito que me retire dos olhos a venda que me cega.
Adelice da Silveira Barros
Excelentes reflexões. E os políticos ? Bem, as populações já não lhes conferem grande confiança por constatarem que tem havido muita corrupção com prefeitos que ficam com as verbas destinadas à merenda escolar de crianças necessitadas, ruas esburacadas, escolas com falta de tudo, transporte com veículos caindo de velhinhos, falta de saneamento, proliferação de favelas em morros ou junto a córregos fedorentos com ratos e baratas, obras mal feitas ou abandonadas sem terem sido acabadas, propinas milionárias em obras de grande envergadura, hospitais com gente morrendo por falta de atendimento, etc. É uma enorme lista de factos que provam que muitos dos governantes de vários níveis são incompetentes, entre os quais muitos ladrões.
Enquanto os honestos e competentes não formarem uma frente para derrubarem a escória da política, não se pode ter muita fé em mudanças radicais, tão desejadas e extremamente necessárias.
PARABÉNS À AUTORA DESTA TÃO APROPRIADA E CONDIZENTE CRÓNICA COM A REALIDADE DIÁRIA QUE TANTO NOS DESGOSTA E FAZ SOFRER..
Armando Ribeiro