Você está em: Inicial » Angola // Brasil // Cabo Verde // Crônicas // Curiosidades // Galiza // Goa, Damão e Diu // Guiné-Bissau // Macau // Matérias Especiais // Moçambique // Notícias // Países // Portugal // São Tomé e Príncipe // Timor Leste » Declarações sem fundamento de um linguista sobre a Língua Portuguesa.
|
20 mar
|
|||
|
O que é uma língua?
Por mais objetivos que pareçam
os critérios para definir um idioma, sua riqueza de variantes é um empecilho à conceituação.
Diz o mito bíblico que, no princípio, todos os habitantes da Terra falavam uma só língua, mas, para castigá-los por sua pretensão de construir uma torre que chegasse até os céus, Deus confundiu suas falas, e desde então ninguém mais se entendeu. Na verdade, há duas teorias principais sobre a origem das línguas: a monogênica ou unilocal, segundo a qual teria existido uma língua primeira, falada na África em alguma época entre 200 mil e 30 mil anos atrás, e a poligênica ou multilocal, que argumenta ter a linguagem emergido como uma propriedade evolutiva do cérebro em várias populações ao mesmo tempo.
Como quer que tenha sido, a realidade é que as línguas vão se dialetando e dando origem a novas línguas, de tal modo que, tenha ou não havido uma primeira língua, os idiomas falados hoje têm ancestrais comuns, o que permite a identificação de famílias linguísticas e a construção de árvores genealógicas.
Já falei anteriormente sobre a diferença entre idioma e dialeto, diferença esta, por sinal, muito mais política do que linguística. Afinal, cientificamente falando, tanto os idiomas oficiais quanto os dialetos regionais e tribais nada mais são do que línguas. E à linguística interessam todas as línguas, não importa seu status político. Mas o que é, então, uma língua? Segundo o Dicionário de Lingüística de J. Dubois et alii, “lingua é um instrumento de comunicação, um sistema de signos vocais específicos aos membros de uma mesma comunidade”. E, para Saussure, considerado o pai da linguísitica moderna, “constitui-se num sistema de signos, onde, de essencial, só existe a união do sentido e da imagem acústica, e onde as duas partes do signo são igualmente psíquicas”.
Por sistema entendemos um conjunto de partes que se articulam e se combinam entre si segundo regras dadas. A língua é um sistema em que signos (palavras) se combinam numa certa ordem, sendo, grosso modo, um léxico regido por uma gramática.
Se as línguas variam no tempo e no espaço, graças a inovações que ocorrem a todo instante, é natural que os falares de dois locais relativamente distantes um do outro se diferenciem com o tempo. A questão crucial e espinhosa para a lingüística é determinar a partir de que ponto esses falares deixam de ser meras variedades da mesma língua e passam a ser dois dialetos (duas línguas distintas) que poderão, com o tempo, tornar-se dois idiomas nacionais.
A gênese das línguas se assemelha muito ao problema biológico da especiação. A diferença é que os biólogos têm métodos mais objetivos para determinar se dois espécimes pertencem a raças ou a espécies diferentes. Por exemplo: se os filhotes nascerem estéreis, teremos espécies distintas.
O critério da intercompreensão, usado para fazer distinção entre as línguas, é subjetivo: imagine um nordestino conversando com um gaúcho, com um português, um espanhol, um russo… A partir de que ponto é possível dizer que o entendimento mútuo é suficientemente pequeno para que tenhamos duas línguas?
Um exemplo familiar é o próprio português. Ele é falado em vários países e tem, no mínimo, três variedades: lusitano, africano e brasileiro. Por outro lado, existe na Espanha o galego, idioma oficial da Galícia e razoavelmente semelhante ao português lusitano, tanto que a intercompreensão é quase total. Em alguns aspectos, o português lusitano está mais próximo do galego, que é outro idioma, do que do brasileiro, que é outra variedade do português.
Historicamente, havia apenas uma língua, o galaico-português, falado no noroeste da península Ibérica entre os séculos 11 e 14, até que a progressiva dialetação deu origem, mais ao sul, ao português e, ao norte, ao galego. Este último permaneceu como dialeto até o século 19, quando voltou a produzir literatura, e mais recentemente foi reconhecido como um dos idiomas oficiais da Espanha.
Se compararmos as variedades lusa e brasileira do português, especialmente na modalidade oral, veremos diferenças tão marcantes que justificariam até falar em dialetos. Afinal, há divergências lexicais e sobretudo fonológicas, morfológicas e sintáticas. Filmes portugueses costumam ser dublados ou legendados no Brasil, e as legendas nem sempre coincidem com a fala original dos atores.
Possivelmente, a classificação do português lusitano e do brasileiro como variedades e do galego como língua tem caráter político. Pela mesma razão, há controvérsias em determinar se o holandês e flamengo, romeno e moldavo, sérvio e croata, híndi e urdu são idiomas ou variedades. A distância entre o holandês, idioma oficial dos Países Baixos, e o flamengo, uma das línguas da Bélgica, não é maior do que entre o inglês britânico e o americano. Apesar disso, os belgas de fala flamenga são bastante ciosos de seu idioma.
No caso do servo-croata ou do híndi-urdu, há questões nacionais, étnicas e religiosas envolvidas. Até mesmo os alfabetos usados de cada lado da fronteira são diferentes, o que indica que o sentimento de pertença mútua é bem fraco nesses casos.
De modo geral, podemos dizer que um idioma é uma língua com expressão escrita em registro formal, uso sistemático na comunicação diária, nas relações de trabalho e comércio, em documentos oficiais, nas comunicações de massa (jornais, revistas, rádio, TV, internet), não restrito a um pequeno número de localidades e, acima de tudo, expressando um sentimento de identidade nacional por parte dos falantes. As variedades regionais (diatópicas) ou sociais (diastráticas), assim como os dialetos seriam desvios menores ou maiores a esse padrão. Na verdade, poderíamos considerar as variedades como desvios em nível de norma, ao passo que os dialetos apresentariam diferenças em nível de sistema: por exemplo, a existência de fonemas diferentes, modos distintos de flexionar palavras, presença de tempos ou modo verbais exclusivos, e assim por diante. O problema é que, por esse critério, que parece objetivo, o português lusitano e o brasileiro já estão deixando de ser variedades para tornar-se dialetos. Isso confirma o diagnóstico de Noel Rosa no samba Não tem tradução, que diz: “Tudo aquilo que o malandro pronuncia / Com voz macia é brasileiro, já passou de português”. Mas também põe em xeque o futuro da chamada lusofonia.
Aldo Bizzocchi é doutor em Lingüística pela USP e autor de Léxico e Ideologia na Europa Ocidental (Annablume).
revista Língua Portuguesa – abril 2011, p. 62/63.
|
26 mar (8 dias atrás)
![]() |
![]() ![]() |
||
|
Dito isto apenas quero dizer ao senhor doutor de linguística o seguinte:
Com que intenção ele força tanto a BARRA, afirmando que o português lusitano se aproxima mais do galego do que do português falado no Brasil ????
De tal afirmação só posso chegar a uma de duas opções: Nunca ouviu um galego falar e por outro lado, apesar de muitos portugueses residirem no Brasil, também nunca falou com um português. E a segunda opção é que se já ouviu ou falou com cidadãos de Portugal e da Galiza e também já leu algum livro em galego ou em português lusitano, certamente que o doutor em línguística da USP está faltando à verdade.
Fica a pergunta: COM QUE INTENÇÃO ??? Quais são os seus interesses ???? Quer convencer quem e por quê com afirmações tão grandiosamente absurdas????
Outra afirmação que não corresponde à verdade é dizer que a Língua Portuguesa falada em África também é diferente do que se fala no Brasil e em Portugal.
O senhor doutor em línguística precisa ser mais realista e para isso, apesar do seu título de LINGUÍSTA, com o devido respeito, não deve falar do que não sabe e estudar um pouco mais, convivendo e lendo livros editados em Língua Galega e Portuguesa redigidos por cidadãos dos países ou regiões respectivos. Aqui eu os menciono: PORTUGAL, ANGOLA, MOÇAMBIQUE, GUINÉ BISSAU, SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE , TIMOR LESTE e ainda das DIÁSPORAS de GOA e MACAU e, claro, do Estado Autónomo da GALIZA.
Verificará então, que a linguagem escrita destes países é exactamente igual à de Portugal e para sua surpresa, talvez, não encontrará diferença nenhuma do que se escreve nos bons Jornais ou Revistas do Brasil tais como FOLHA DE SÃO PAULO, ESTADÃO, JORNAL DO BRASIL., GLOBO, REVISTA VEJA, ISTO È, ECOMÓMICO, Etc. Também verificará que apesar das semelhanças e de terem a mesma origem (GALAICO- DURIENSE) e nos entendermos muito bem, portugueses, africanos e brasileiros com os galegos, o que o senhor linguísta da USP afirma sobre proximidades, dialetos e diferenças não tem base nenhuma que a sustente.
Terá ele ido à ÁFRICA LUSÓFONA alguma vez ??? Duvido porque se tivesse estado alguma vez num desses países não diria tanta asneira de uma só vez.
Gostei muito do texto na perfeição de linguagem Luso-brasileira, mas muito errado nas diferenciações que faz entre GALEGO, PORTUGUÊS LUSITANO, O PORTUGUÊS DO BRASIL E ÀFRICA . Neste quesito a nota que ele merece é ZERO.
Meu amigo senhor Roldão, seria bom que ao senhor Aldo Bizzocchi fosse encaminhado este e-mail.
Um grande abraço e ao dispor
Armando Ribeiro
|
26 mar (8 dias atrás)
![]() |
![]() ![]() |
||
|
É, devemos ter muito cuidado com o que escrevemos! Muito bom, Armando! Abraço!